Assunto Recunho
by EDIL GOMES
As moedas de cobre no Brasil já circulavam por aqui desde o tempo dos primeiros desbravadores, eram os reais portugueses e outras moedas estrangeiras, mas como são padrões de medidas diferentes vamos considerar que as primeiras foram as da série PPPP que tiveram sua primeira cunhagem em 1693 e circularam oficialmente no Brasil pela Carta Régia de 10 de fevereiro de 1704.
As moedas de cobre, após vários reinados tiveram sua última data cunhada em 1833, embora tenha sua circulação continuado até 1868, quando foram substituídas pelas moedas de bronze e definitivamente deixadas de serem aceitas em 1907.
Todas circulando paralelamente, de vários padrões de pesos e nesse vasto período de circulação passaram por mudanças, recebeu o carimbo de armas de Portugal (Escudete), carimbos locais, comemorativos, particulares, carimbo geral, dentre outros, o que torna tão fascinante seu estudo.
Aqui levaremos a tona o assunto recunho em cobres, embora existam tantas evidências, há pouco material para pesquisa, diferente dos outros metais (ouro e prata).
Para entender primeiro o que é um recunho, recorremos ao dicionário para saber seu verdadeiro significado: “Cunhar é imprimir cunho marcando com inscrições ou imagens executadas em côncavo. Marca em relevo”. E recunhar é: “Cunhar outra vez”.
Recunho onde apresenta vestígios evidentes da moeda base, bem como seu escudete. (Ex-coleção João Gualberto Abib)
A partir dessa explicação entendemos que recunho não necessariamente são oficiais e numa classificação mais abrangente são as moedas que de alguma forma receberam novamente um cunho no disco, no caso dos cobres para corrigir o sistema monetário ou auferir lucro, sendo oficiais feitos nas Casas de Moeda ou falsificações.
É preciso também separar os erros de cunhagem como rebatidas (batida dupla) e cunho chupado, muitas vezes confundido com recunho.
Num primeiro momento, poderíamos pensar que os recunhos seriam para atualizar o monarca que governava, mas na verdade seu único propósito era de certa forma o lucro, tanto em falsificações, quanto nas cunhagens oficiais.
Alguns defeitos como dupla batida são confundidos com recunhos. (Coleção Babi Berta)
Para considerar o recunho em cobres, deveríamos recorrer a leis e decretos, mas são muito poucos, então nos baseamos na história da época, entender a forma de cunhagem, pesos e medidas, economia e por fim as próprias moedas recunhadas que sobreviveram e estão espalhadas em coleções.
Vale ressaltar que nem todos os recunhos são visíveis, alguns apresentam poucos indícios, contudo outros se fundem os dois cunhos, no mercado, apesar de não haver uma regra quanto a valores, leva-se sempre em conta os recunhos mais evidentes e a identificação da moeda base, estas alcançando valores consideráveis.
Forma de cunhagem
No início do século XIX, as casas da Moeda no Brasil cunhavam moedas utilizando-se de balancins, que eram uma espécie de prensa, também chamada de “engenho de cunhar”, na qual eram encaixados os cunhos contendo as imagens do anverso (cara ou face da moeda em que aparece a efigie ou emblema) e do reverso (coroa ou face oposta da moeda).
As faces das moedas eram esculpidas, uma em cada cunho, de forma espelhada. Uma chapa de metal, já cortada em forma de círculo, era colocada entre os cunhos.
Os braços do balancim eram então girados o que fazia com que um cunho fosse pressionado contra o outro. Desta forma, imprimia-se o anverso e reverso da moeda na chapa circular de metal.
Conhecendo a forma de cunhagem, que era toda manual, entendemos como era feito o recunho aproveitando o disco de antigas moedas para os novos valores.
A figura que representa a cunhagem de moedas com balancim. O operário ao centro coloca o disco de metal com as faces lisas entre os cunhos, em seguida, os outros operários giram os braços do balancim para que se imprima o anverso e o reverso da moeda no disco de metal. DIDEROT; D’ALEMBERT. L’Encyclopédie ou Dictionnairerais onné des sciences, des arts et des métiers.
Moedas bases para os recunhos
Nos cobres, dividimos as moedas em três períodos: Colônia (1500-1815), Reino Unido (1815-1822) e Império (1822-1889). Na república já não tínhamos moedas em cobre, sendo a última cunhagem delas feitas em 1833.
Tivemos as moedas provinciais ou coloniais e posteriormente as moedas locais ou regionais, com circulação paralela, mas padrões diferentes.
O cobre tinha dois padrões, havia peças coloniais de cobre de 40 (XL), 20 (XX), 10 (X) e 5 (V), cuja oitava valia 5 réis, enquanto na região mineira a oitava era avaliada em 10 réis.
Essa desvalorização do cobre limitava no início à região mineira, estendeu-se a partir de 1799 a todo Brasil, marcando o início do novo padrão monetário em cobres.
Após essa data, no Reinado de Dom João VI, várias medidas foram tomadas para fazer esse reajuste de valores, como aplicação de carimbos nas moedas de cobre (como o Escudete, Primitivos do império, Ceará, Maranhão, Pará, Geral e falsificações).
Um raro recunho sobre moeda PPPP com escudete. (Coleção Edgar Serrato)
O Valor de 80 réis (LXXX) em cobre, foi adotado em 1811 na Casa da moeda do Rio de Janeiro e em 1818 na Casa da moeda da Bahia. Antes era cunhado somente em prata nesse valor.
Valor definido pelo seu peso
A medida das moedas eram definidas por uma antiga unidade de medida portuguesa e adotadas em suas colônias, a oitava. Uma oitava em quilogramas valia 3,5856g.
Em valores comparativos no primeiro sistema de moedas até 1799: V réis = 3,58g.; X réis 7,17g; XX réis 14,34 g., contudo, notamos variação de valores decorrentes dos discos cunhados, forma de cunhagem e desgaste de circulação, tendo variação entre elas.
Em modo simplificado, colocamos os reinados, padrões e pesos para demonstrar os vários tipos de moedas de cobre que circulavam no Brasil.
As novas moedas cunhadas não substituíam as anteriores e eram agregadas circulando todas juntas. Veja no quadro comparativo onde podemos verificar essas variações.
Quadro comparativo de pesos e medidas em moedas de cobre da Colônia, Reino Unido e Império, circulantes no Brasil.
Moedas coloniais e provinciais (5 réis a oitava)
ANO DENOMINAÇÃO VALOR PESO (OITAVA) PESO (GRAMAS)
1693 – 1699 (Pedro II)
Porto e em 1704, no Brasil (PPP) Vintém XX 4 14,34
Meio vintém X 2 7,17
Cinco réis V 1 3,58
1715 – 1749 (Dom João V)
Lisboa, Rio e Bahia Vintém XX 4 14,34
Dez réis X 2 7,17
Cinco réis V 1 3,58
1752 – 1777 (Dom José I)
Lisboa, Guiné, Bahia e Rio Dois vinténs XL 8 28,68
Vintém XX 4 14,34
Dez réis X 2 7,17
Cinco réis V 1 3,58
1778 – 1785 (Maria I e Pedro III)
Lisboa Dois vinténs XL 8 28,68
Vintém XX 4 14,34
Dez réis X 2 7,17
Cinco réis V 1 3,58
1786 – 1799 (Maria I)
Lisboa Dois vinténs XL 8 28,68
Vintém XX 4 14,34
Dez réis X 2 7,17
Cinco réis V 1 3,58
1799 (Maria I)
Lisboa
Obs: cinco réis não circulou Dois vinténs XL 4 14,34
Vintém XX 1 7,17
Dez réis X 1 3,58
Cinco réis V 1/2 1,79
1802 – 1823 (Dom João-Príncipe Regente)
após Dom João VI
Lisboa, Bahia e Rio Dois vinténs XL 4 14,34
Vintém XX 2 7,17
Dez réis X 1 3,58
1811 – 1823 (Dom João VI)
Rio até 1822 e Bahia até 1823 Quatro vinténs LXXX 8 28,68
1823 – 1831 (Dom Pedro I)
Rio de Janeiro e Bahia – 80 – 28,68
– 40 – 14,34
– 20 – 7,17
– 10 – 3,58
1831 – 1832 (Dom Pedro II)
Rio de Janeiro e Bahia – 80 – 28,68
– 40 – 14,34
– 20 – 7,17
Moedas de cobres locais com circulação limitadas (10 réis por oitava)
ANO DENOMINAÇÃO VALOR PESO (OITAVA) PESO (GRAMAS)
1722 (Dom João V)
Lisboa para Minas Dois vinténs XL 4 14,34
Vintém XX 2 7,17
Padrão Troco de ouro (18 3/4 a oitava)
ANO PARA DENOMINAÇÃO VALOR PESO (OITAVA) PESO (GRAMAS)
1818 – 1821 (Dom João VI) Minas – 2 vinténs de ouro 75 réis 75 4 14,34
Minas – 1 vintém de ouro 37 1/2 réis 37 1/2 2 7,17
20 réis por oitava – Letras monetárias Goiás e Mato Grosso
ANO DENOMINAÇÃO VALOR PESO (OITAVA) PESO (GRAMAS)
1818 – 1823 (Dom João VI)
Bahia para Goiás e Mato Grosso Quatro vinténs LXXX 4 14,34
Dois vinténs XL 2 7,17
Vintém XX 1 3,58
Moedas das Províncias do Império
ANO DENOMINAÇÃO VALOR PESO (OITAVA) PESO (GRAMAS)
1823 – 1831 (Dom Pedro I)
Goiás (G) e Cuiabá (C)
Numerais arábicos – 80 – 14,34
– 40 – 7,17
– 20 – 3,58
1825 – 1825 (Dom Pedro I)
São Paulo – 80 – 19,11
1823 – 1825 (Dom Pedro I) – 75 – 14,34
– 37 1/2 – 7,17
1832 – 1833 (Dom Pedro II) – 80 – 19,11
1832 – 1833 (Dom Pedro II)
Goiás (G) e Cuiabá (C)
Numerais arábicos – 80 (G) – 14,34
– 40 – 7,17
Os pesos e medidas principalmente no cobre, podem sofrer algumas variações para mais ou menos.
Quebra do padrão monetário
Com a deterioração do estado de saúde da soberana, seu filho Dom João foi obrigado a assumir o controle do governo, ordenando a única alteração monetária ocorrida durante esse período, à partir de 1799 os valores X, XX e XL réis foram cunhados com a metade do peso.
Essa quebra de padrão foi o principal fator de se conhecerem hoje moedas recunhadas, já que todas elas passaram a circular juntas, gerando uma confusão entre peso e valores das moedas de cobre, tivemos também as moedas regionais cunhadas para Mato Grosso (C) e Goiás (G) com pesos ainda inferiores ao das moedas pós quebra do padrão.
Carimbo Escudete
Moeda recunhada sobre base com escudete (Ex-Coleção XL Réis)
A necessidade de carimbos ou recunhos se deu pela duplicidade de padrão monetário, iniciada desde 1722, foi ainda revigorada em 1799, na série de exemplares de XL, XX e X réis, lavrados no governo de D. Maria I, de pesos e valores idênticos e cujos espécimes também reproduzidos no período posterior de 1802 a 1805, pela própria Casa da Moeda de Lisboa ao tempo do príncipe D. João, como Regente.
Essa contradição nos termos serviu à causa determinante do Alvará de 18 de abril de 1809. No qual procurou unificar o valor nominal representado no cunho da moeda de cobre forte, que era de circulação geral, duplicando o seu valor nominal por meio de carimbo, hoje, conhecido por Escudete.
O carimbo de uma forma geral igualou esses valores entre o facial e o peso, o carimbo das armas portuguesa sem coroa, conhecido como Escudete, aumentou o seu valor nominal em 50% por meio de contramarca. Tal procedimento as igualava nas cunhagens posteriores a 1799 sob a razão de 10 réis por oitava de cobre.
Com essa medida da aplicação do carimbo duplicando o valor, não houve a necessidade de recunhos, já que ele já realizava esse processo de alteração de valores.
O carimbo de Escudete porém, tem sua história a parte, como tipos, forma de aplicação, aqui apenas mencionamos e também foi por sua aplicação que alguns recunhos hoje são identificados, onde mencionamos nesse artigo. Ele deixou de ser aplicado, após surgir várias falsificações.
Carimbar ou Recunhar
Em alvará de 16 de outubro de 1809 e Provisão de 17 outubro do mesmo ano, ordenou que fossem recunhadas as moedas a fim de se verificar o Alvará de 18 de abril, abrindo-se os cunhos precisos, não só para a Casa da Moeda, mas para se remeter as Capitanias.
No ano de 1809, era preciso carimbar mais de 20 milhões de moedas em circulação. Houve ordem também que o escudete não deveria mais ser aplicado nas moedas “mineiras”, as quais deveriam ser totalmente recunhadas.
Em trecho da Provisão de 17 de outubro de 1809, citamos:
“Do que fica exposto vê-se:
2 – que, nas mesmas Capitais (Minas, Goyas, Matto Grosso e S. Paulo) e em todas as mais mandadas carimbar as moedas de prata da série de 600 rs. (J) e as de cobre anteriores a 1803 para por-lhes o valor em relação e de accordo com o peso e dimensões das mesmas moedas.
3 – que, depois de ter-se reconhecido a inconveniências dos carimbos, em razão do apparecimento de muito que não pareciam legítimos, foram mandadas recunhar as moedas carimbadas, não só nas casas da moeda do Rio e da Bahia, mas também nas de Minas e S. Paulo…”
Recunhos Reino Unido
Moeda de 2 Macutas para circular em Angola que foi cunhada sobre moedas brasileira. (Coleção Antonio Neto)
Moedas do Reino Unido que recebeu recunho. (Coleção Babi Berta)
Moeda recunhada de XL 1820B do Reino Unido. (Ex-coleção XL Réis)
As moedas recunhadas foram iniciadas a partir de 1809 pela Casa da Moeda do Rio de Janeiro a mando do Real Erário, através da Provisão de 17 de outubro de 1809, que determinou o recunho de novos valores, tanto em prata (nas moedas da série J) quanto em cobres, em vista da falsificação do carimbo de escudete, segundo representação do Real Erário, à Junta da Fazenda de São Paulo, que: “em vez do escudete, se fizesse o recunho”.
Processo esse que foi empregado ainda no governo de Dom Pedro I se estendendo a regência de Dom Pedro II.
As Macutas para circular na Angola e feitas no Brasil, também usaram moedas brasileiras para serem recunhadas.
Recunhos na Casa da Moeda da Bahia
Várias moedas de cobre 1820B aparecem como sendo recunhos. Outras datas também aparecem recunhadas como essa 1821B. (Coleção Babi Berta)
No Brasil colônia, durante a década de 1820, sob o reinado de Dom João VI (pai de Dom Pedro I), estava em curso o processo de construção do Estado e da identidade nacional. Em 1822, foi proclamada a independência política do país em relação a Portugal.
A partir de 1827, a emissão de moedas de cobre pelo próprio governo como recurso para pagar as despesas do Estado traduziu-se em mais um elemento inflacionário, que acabou facilitando a difusão da circulação de moedas falsas por todo o Império.
Com a falta de discos para a confecção das moedas, foram utilizados moedas de antigos reinados nos recunhos, notadamente grande maioria delas em 1820, na Casa da Moeda da Bahia, com o Brasão do Reino Unido.
Recunhos em moedas do império
Recunho em moedas do Império com base evidente. (Coleção Babi Berta)
Exemplar recunhado, nota-se ainda a particularidade do carimbo escudete na moeda base no anverso e reverso (Coleção VLOG)
Após a proclamação da Independência do Brasil, não foi realizada a substituição do meio circulante. Assim as antigas moedas continuaram a circular dentro do território brasileiro e o padrão monetário continuou sendo o “Réis”.
Contudo, em 22 de agosto de 1823, o Ministério da Fazenda mandou que se cunhassem moedas de cobre tendo em seu anverso a recém criada armas do Império Brasileiro e serrilhas na borda no valor de 80 réis e em todos os valores agora apresentavam algarismos arábicos em vez dos romanos utilizados até então..
Apesar das diferenças no cunho, as novas moedas mantiveram a mesma forma, peso e valor das suas antecessoras, somando-se a estas na circulação.
Embora fosse recomendado seu recunho, eram aceitas as moedas de reinados anteriores conforme ordem abaixo de 31 de julho de 1826:
Ordem de 31 de julho de 1826
Recunhos sobre moedas 75 réis 1823 G do Império
Todos os 75 réis de 1823 são recunhados, alguns apresentam uma evidência maior.
75 reis 1823 G – 1º florão vertical e o 2º com 7 pétalas – 28 tulipas. Recunhada sobre XL reis 1814 B (Coleção Mauro Mesquita)
Não há moeda de 75 réis de Goiás do império em disco próprio, é sempre recunhada e apresenta invariavelmente 28 tulipas na grinalda, tendo o ferro de reverso 12 folhas e 5 flores no ramo de tabaco (não é conhecido variedade, dado que a Casa da Moeda do Rio de Janeiro somente abriu um cunho para a sua lavratura).
É assim que a Intendência do Ouro de Goiás, lavra o exemplar de 75 réis, de 1823G, que era destinado ao troco das frações da oitava do ouro não quintado, sobre moedas de oitenta réis, emitidas em Lisboa e cuja lavratura (de peso leve) era destinado ao meio circulante de Minas, porém, na prática, também circulou em Goiás – servindo por fim, ao recunho da moeda de 75 réis.
Recunhos em moedas de Goiás (letra G) e Cuiabá (C)
Recunho sobre moeda de Cuiabá. (Coleção Tiago da Silva Castro)
Evidente que tal prática oferecia vantagem, já que nessas capitanias o padrão de oitavas era diferente, tendo o tamanho e valores reduzidos.
Encontramos em moedas de Goiás, no valor de 80 réis, principalmente lavrada no ano de 1828, onde os ferros de reverso apresentam 10 e 12 folhas de tabacos, a palavra VINCES ora é gravada sem a letra N, ficando VICES, além da abertura de outro ferro conhecido interessante, pelo fato de não apresentar estrelas o escudo das Armas imperiais, ferro de reverso não acabado, é a denominação técnica no caso.
E não propriamente erro. São recunhadas em moedas coloniais e ainda em espécimes da própria fase Reino Unido, se estendendo até o reinado de Pedro II, onde encontramos exemplar de 1832, que apresenta o ferro de reverso com 12 folhas no ramo de tabaco, tendo ainda uma saliência na parte superior do escudo das armas, lado direito, constituindo esse defeito, que é imperfeição do cunho.
Foram portanto usados como base antigas moedas provinciais, principalmente de 40 réis, já lavrados no Brasil a partir de 1809, dado o peso de quatro oitavas e era justamente o peso fixado a moedas de 80 réis G, inicialmente lavrada em 1828.
Recunhos com Moedas com carimbo de escudete
Em algumas moedas nota-se que é recunho pelo escute da moeda base. (Coleção Babi Berta)
Após estudar vários recunhos com moedas que já havia sido aplicado o escudete, verificou-se como regra durante o seu recunho, em se deixar ele do lado do brasão pois caso ficasse evidente, não ocultaria o valor facial.
Em algumas moedas em cobre, só é descoberto o recunho, pois o “Escudete” da moeda base fica evidente. Em várias moedas examinadas, apenas um exemplares não foi cunhado dessa forma.
Falsificações e oficiais
Moeda de 182?B – recunhada sobre XL Réis 1816B (Data de prorrogação em falsa) (Ex-coleção XL Réis)
Alguns fatos agravaram os recunhos como a grande quantidade de moedas falsas circulantes (muitas delas recunhos), falta de matéria prima (cobre), que era importado.
O caos monetário em que foi gerado pela transição do Reino Unido (Dom João VI) para o reinado de Pedro I, nesse período marcou a vinda da família Real para o Brasil e posteriormente a transição para a Independência do Brasil.
As moedas eram fabricadas por processos rudimentares. A laminação era a martelo, dai o fato dos discos não serem uniformes, deixando de manter a mesma espessura ou calibragem.
O corte desses discos era feito com tesouras, procurando-se aparar o melhor possível as rebarbas e limando-se o disco, a fim de torná-lo uma circunferência. Inúmeras vezes foram utilizadas chapas de cobre provenientes de revestimentos de cascos de navios e sem preparo prévio.
A qualidade das moedas, especialmente as de cobre, era grandemente deficiente apresentando, não raras vezes, falta de pedaços (final de chapa).
Um recunho falso conhecido é o XL RPGINA, trata-se de uma peça sempre recunhada sobre uma peça de 80 réis do Império, com carimbo geral de 40, depois provida com a carimbo escudete.
Tratava-se de um negócio sumamente lucrativo para os falsários, pois eles retiravam da circulação moedas de 40 réis, as recunhavam com cunhos de XL colonial, e depois de lhes aplicar um carimbo de escudete as lançavam novamente ao mercado pelo valor de 80 réis, oficialmente reconhecidas pelo governo do Pará.
Alguns desses recunhos falsos, possuíam data de prorrogação, onde a moeda base é de um ano superior ao recunhado na moeda falsa, por exemplo a moeda base 40 réis do Império de 1824R, sendo recunhada com o cunho de uma LXXX 1821B.
Recunhos falsos Bahia
1821B – Falsa – recunho sobre 40 réis 1826B
1821B – Falsa – recunho sobre 40 réis 1826R
Dentro do quadro de instabilidade política, de insegurança e de crise do sistema comercial, começou a aparecer no meio circulante da Província da Bahia, sobretudo na Cidade do Salvador, uma quantidade excessiva de moedas falsas de cobre, ou derrame.
Progressivamente, a quantidade de moedas dessa espécie se tornou mais abundante. Até que, em 1826, a maioria das moedas em circulação na Província constituía-se de moedas falsas de cobre.
O recunho falso no LXXX (80) era feito usando o disco de uma moeda verdadeira de XL (40). Com essa prática era duplicado o valor da moeda, a maioria desses cunhos são rústicos sendo comum apresentarem erros na legenda e marcas evidentes da moeda base.
Recunhos citados em catálogos
Catálogo “Livros das Moedas do Brasil” (Amato-Irlei-Arnaldo Russo), cita os valores de XX, XL e LXXX – aparecem recunhadas nessa data (1820) letra B,
O Catálogo de Moedas Brasileiras de Cobre – Kurt Prober, 1957:
XX réis 1812 R – quase sempre recunhada em moeda de X réis do século anterior.
LXXX 1812R – quase sempre recunhada em moeda XL do séc. anterior ou de 1Macuta de Angola
XX 1820 B – Quase sempre é recunhada em moeda de X rés Colonial muitos até com escudete.
75 réis G – Todas as peças são recunhadas em moedas coloniais.
80 réis 1826 P(Falsa) – geralmente é recunhada
40 réis 1831 R – Geralmente recunhada em XL Colonial (Acredito que ele quis dizer XL Reino Unido).
80 réis 1831 R – As moedas “autêticas” também aparecem com frequência recunhadas em XL Colonial e LXXX Reino Unido.
Curiosidades
Consideramos nesse artigo para estudo a primeira emissão de 1693 (4P).
Em 1799 ocorreu a quebra de padrão o que gerou necessidade de igualar valores por carimbos ou recunhos, regulamentado pelo Alvará de 1809.
Os recunhos oficiais ou falsos são verificados de 1809 a 1833, último ano de cunhagem em cobres.
Foram recunhados nas regências de Dom João VI, Dom Pedro I, e Dom Pedro II.
Nem todos os recunhos são evidentes, alguns apenas identificados pelo escudete da moeda base, ou pequenos indícios, contudo encontramos verdadeiras joias numismáticas, peças únicas de rara beleza que venceram o tempo e hoje podem ser apreciados.
Algumas peças consideradas como recunhos são defeitos de cunho (por transferência conhecido como cunho chupado ou batida dupla).
Pela ordem do Tesouro n 317 de 14 de julho de 1869, e ordem 123 de 2 de maio de 1870, providenciou-se a substituição dos cobres pelas de bronze, contudo só foram recolhidas e substituídas por decisão de 18 de agosto de 1907.
Prêmio Literário Florisvaldo dos Santos Trigueiros
Este artigo foi indicado na 1ª edição do Prêmio Literário Florisvaldo dos Santos Trigueiros na categoria de melhor publicação numismática de 2021 em 19/05/2023.
Fontes
Novo Dicionário Aurélio, Editora Nova Fronteira, 2 impressão, 1999.
Cobres do Brasil (Colônia – Reino Unido – Império). Facebook: facebook.com/groups/cobresdobrasil. Acesso em março de 2016
O Derrame de Moedas Falsas De Cobre Na Bahia. (1823-1829). ALEXANDER TRETTIN. Dissertação de Mestrado, apresentadaao Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia como pré-requisitopara a obtenção do grau de Mestre em História. 2010
Coleção de Leis do ImpérioCollecção das decisões do Governo, 1826
Yolanda Vieira de Abreu, SamayBertelle Coelho; Evolução histórica da moeda. Estudo de caso: Brasil (1889-1989).
O Brasil Colônia e seu meio circulante, Arquivo MHN
Astréa, periódico da Câmara dos Deputados, Rio de Janeiro. Exemplar 213 de 1827
Carimbos Brasileiros, Fábio FemianoPagliarini. SNB. 2014. Gráfica Rodalex.
Revista Numismática. Artigo Carimbos de Escudete. Kurt Prober. SNB. 1942.
Livro das Moedas do Brasil. Claudio Amato, Irlei S. neves, Arnaldo Russo. 13 Edição. 2012. Editora Artgraph
Catálogo da Colleção Numismática Brasileira – Agusuto de Souza Lobos, 1908
Moedas do Brasil – Cobre e Bronze, 3 Volume, José Vinicius Vieira do Amaral, 1990
Moedas Brasileiras – Catálogo Oficial – Rodrigo Maldonado – 2 Edição 2014